Que diferença faz?
Ronald Sider escreveu um livro com um título intrigante: “O escândalo do comportamento evangélico”. Sob o título, a pergunta:
“Por que os cristãos estão vivendo exatamente como o resto do mundo?”
O autor, que esteve no Rio de Janeiro em 2009, como preletor de um congresso da Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS), menciona o resultado de várias pesquisas feitas nos Estados Unidos, as quais justificam o título e o subtítulo do seu livro.
O Instituto Gallup e o Barna Group, por exemplo,
“apresentam resultados de pesquisas e mais pesquisas mostrando que os cristãos evangélicos estão a ponto de assumir estilos de vida tão hedonistas, materialistas, egoístas e imorais quanto os do mundo em geral” (p.13).
“De acordo com uma pesquisa de Barna, em 1999, a taxa de divórcio entre os evangélicos era a mesma da média nacional!” (p.19).
“O orador Josh McDowell disse que a juventude evangélica tem uma probabilidade apenas 10% menor de fazer sexo antes do casamento que os não evangélicos…” (p.23).
“Citando uma pesquisa da revista Lidership, S. Gallagher afirma: ‘Tragicamente, o percentual de homens cristãos envolvidos em pornografia não é muito diferente do número de não salvos’ ” (p.25).
Estas são pesquisas e estatísticas americanas. Não fazemos tantas pesquisas no Brasil. Mas vale perguntar: Como procedem os “evangélicos” brasileiros nestas mesmas áreas: moda, diversão, sexo, namoro, casamento, divórcio, família, televisão, internet, vícios, dinheiro, consumismo, justiça social? E se deixarmos de lado o rótulo “evangélico” e fizermos a pesquisa entre os que se dizem “cristãos”, que é a terminologia bíblica? Este é um país supostamente cristão, certo?
Que diz a Bíblia?
Numa época de crise espiritual em Israel, o profeta Malaquias, no penúltimo capítulo do Velho Testamento, profetizou:
“Vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio, entre o que serve a Deus e o que não o faz” (Ml 3.18).
Referia-se à época do Messias? Aos tempos do Novo Testamento? Aos frutos do ministério de Jesus?
Jesus e os apóstolos usaram várias expressões e figuras para ressaltar “a diferença entre o justo e o ímpio, entre o que serve a Deus e o que não o faz”, uma diferença radical:
- “palha” e “árvore” (Sl 1)
- “morto” e “vivo” (Lc 15.24)
- “perdido” e “achado” (Lc 15.24)
- “joio” e “trigo” (Mt 13.24-30)
- “cabrito” e “ovelha” (Mt 25.31-33)
- “homem natural” e “homem espiritual” (I Co 2.14-15)
- “trevas” e “luz” (Ef 5.8)
- “incrédulo” e “crente” (II Co 6.15)
Além destes termos e figuras, Jesus e os apóstolos ensinaram como devem viver os cristãos, isto é, os que se arrependeram dos seus pecados, creram em Jesus Cristo e o receberam no coração e na mente como seu Salvador e Senhor.
Jesus veio buscar e salvar o perdido (Lc 19.10). Ele prontamente perdoou a “mulher adúltera” que os fariseus legalistas arrastaram à sua presença, mas disse-lhe: “Vai e não peques mais” (Jo 8.11). Ele condenou o divórcio “por qualquer motivo” (Mt 19.6-9), a ganância e o apego ao dinheiro (Mt 6.19-21). Disse aos seus discípulos: “Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo” (Mt 5.13,14). Implicitamente, o mundo é insípido e está nas trevas! Disse também: “… não sois do mundo… dele vos escolhi” (Jo 15.19).
“Mundo” é o sistema, os valores, a maneira de pensar e agir dos que não crêem em Deus e em Jesus Cristo ou não lhe dão a devida atenção e obediência.
O apóstolo Paulo ensinou como ninguém mais que o pecador é justificado e salvo pela fé, não pelas obras (Rm 3.28; 5.1). O que implica, diga-se de passagem, que justificação e salvação são dádivas graciosas, e que não há porque nos orgulharmos ou pensarmos que somos melhores do que qualquer outro pecador (Ef 2.8-9). Todavia, esse mesmo apóstolo enfatizou que a fé genuína resulta em transformação de vida e boas obras (amor, compreensão, perdão, serviço, caridade…).
O apóstolo escreveu:
“Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
O termo grego traduzido por “conformar” refere-se à forma exterior, à maneira de ser dos que não têm Deus, de fato. O apóstolo está dizendo: “Não entre na forma deste mundo!” Já o termo grego traduzido por “transformar” está na raiz da palavra metamorfose, transformação pessoal, de dentro para fora; mudança de pensamento, de filosofia de vida.
Por fim, leia Ef 4.17 – 5.12 assinalando palavras ou expressões que recomendam comportamento diferente do comum das pessoas, comportamento cristão. Exemplo:
- “não andem mais como os gentios” (4.17),
- “deixem a mentira” (v.25),
- “não deixem que uma ira justa (indignação) vire pecado” (4.26),
- “não furtem… trabalhem… ajudem ao necessitado” (4.29),
- “nada de amargura, raiva, gritaria, blasfêmia, malícia; antes, sejam benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros…” (4.31-32);
- “nem mencionem a falta de pudor, as impurezas e a cobiça dominantes” (5.3),
- “pois outrora éreis trevas, porém agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz” (5.8).
Os iguais não entrarão no Reino dos Céus!
Neste contexto, nos vs. 5-7, o apóstolo faz uma declaração muito séria:
“Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento… tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais participantes com eles”.
Somos “justificados” e salvos pela fé, sim, mas o arrependimento sincero e a fé genuína resultam, forçosamente, em abandono do pecado, mudança de vida, boas obras (Ef 2.8-10, reparando bem no v.10). Porque a natureza humana é tão inclinada ao pecado e as tentações são tantas, essa mudança não acontecerá toda de uma vez; será progressiva. Na Bíblia, esse processo tem vários nomes: aperfeiçoamento, amadurecimento, crescimento, santificação (Ef 4.11-15; I Ts 4.3). Se não houbver mudança alguma, ainda que progressiva; se nada for diferente; se o dito “cristão” continuar deliberadamente no pecado, é se se supor que o arrependimento não ocorreu, de fato; e que a fé não passou de uma emoção momentânia ou uma concordância intelectual. Não houve o que Jesus chamou de “novo nascimento”e “regeneração”. Por isso o apóstolo afirmou: “…nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento… tem herança no reino de Cristo e de Deus”.
A raciocínio lógico é que os que recebem a Jesus Cristo como seu Salvador, precisam recebê-lo também como seu Senhor, ou seja, submeter-se à sua vontade e à sua direção! Uma coisa depende da outra! As duas são imprescindíveis. As duas fazem a DIREFENÇA!
Que Deus nos ajude e abençoe!
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Pr. Éber Lenz César (eberlenzcesar@gmail.com)