O Vale de Baca II (Conforto e orientação para os que sofrem)
(Conclusão)
Na primeira parte desta mensagem, definimos o contexto do Salmo 84, o sentido da termo “baca” (balsameiras) e vimos que o “vale de baca”, no sentido real e figurado, é muito frequentado, é muito indesejável e, todavia, muito proveitoso. Vejamos agora…
Que fazer no Vale De Baca?
O texto diz: “… passando pelo vale árido, faz dele um manancial…” Como? Cavando poços. Os peregrinos orientais, quando passam por regiões áridas, sem água, cavam poços. Assim, conseguem água para si mesmos e para seus animais. Agiram da mesma maneira no passado os patriarcas de Israel (Gn 26.18ss; Jo 4.12). Isso nos ensina três coisas:
Há conforto e escape na tribulação. Nossa tendência, quando passamos por uma provação, é desesperar e desistir. Hagar, a escrava egípcia de Sara, mulher de Abraão, quando expulsa de casa com o filho Ismael, enfrentou uma tremenda provação: andou errante pelo deserto de Berseba, até que lhe acabou a água do odre. Que fez, então?
“… colocou ela o menino debaixo de um dos arbustos, e afastando-se, foi sentar-se defronte, a distância (…) porque dizia: Assim não verei morrer o menino; e, sentando-se em frente dele, levantou a voz e chorou. Deus, porém, lhe disse: Ergue-te (…) Abrindo-lhe Deus os olhos, viu ela um poço de água (Gn 21.15-19).
O poço estava ali, a salvação a seu alcance, mas Hagar, pessimista, desesperada, incrédula, não o percebeu. Nos desertos e vales áridos da vida há sempre algum poço cheio de conforto e salvação. Quando não, cabe-nos cavar um.
O conforto e a saída podem custar esforço. Se o poço não está cavado, temos que cavá-lo nós mesmos. E isso requer esforço intenso. No entanto, vale a pena. É melhor do que sentar para chorar e ficar esperando o imprevisível – talvez o fim. Muito da miséria e derrota de tantos cristãos resulta de sua inércia. Se quisermos saciar nossa sede de conforto, alegria e paz, e encontrar saída no Vale de Baca, temos que olhar à volta e encontrar os poços que outros já cavaram; ou então cavar nós mesmos nossos poços – na Palavra de Deus, na oração, na adoração, no aconselhamento cristão.
O conforto e a saída encontrados por um servirão a outros. Os poços abertos pelos peregrinos de hoje serão úteis aos peregrinos de amanhã. Os samaritanos e o próprio Jesus servirase da fonte de Jacó (Jo 4.6,12). No sentido figurado que estamos considerando, os Salmos são fontes de conforto que Davi e outros cavaram quando estiveram no Vale de Baca.
O conhecido livro Mananciais no Deserto contém o testemunho de muitos que beberam dessas fontes tão antigas, e por sua vez cavaram outros poços. Estas são as fontes, e estes são os poços que Deus nos aponta quando não temos forças para cavar e, como Hagar, simplesmente nos assentamos para chorar e esperar o fim. Às vezes é preciso desentulhar os poços entulhados por inimigos, por maus intérpretes e por maus conselheiros (Gn 26.15,18); outras vezes é necessário cavar poços novos (Gn 26.22).
Cavado o poço, espere pela chuva
Nosso texto diz ainda: “… de bênção o cobre a primeira chuva” (Salmos, 84:6). Isso estabelece uma distinção muito importante para todas estas considerações: os poços que cavamos no Vale de Baca geralmente são do tipo reservatório. Nós os cavamos, mas eles só se encherão quando Deus fizer chover. Tais poços não se enchem de baixo para cima, mas de cima para baixo. Nós fazemos nossa parte; Deus faz a dele. Cavar poços, abrir reservatórios, é um meio, não um fim. A bênção não está no meio, no reservatório, mas no Deus dos meios que enche o reservatório com seu conforto, sua paz, sua alegria, sua salvação, seu poder e sua presença.
“Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei, porque o Senhor Deus é a minha força e o meu cântico; ele se tornou a minha salvação. Vós, com alegria, tirareis água das fontes da salvação (Is 12:2,3).
Deus e Cristo estão conosco no Vale de Baca. Por isso ele recende a bálsamo! Há poços cheios ali. Ele certamente nos permitirá descobri-los. Se assim não for, nos ajudará a cavar nossos próprios poços, e prontamente os encherá de bênçãos.
Pr. Éber M. Lenz César, Recife, Agosto de 1992. Esta mensagem está no livro do mesmo autor, “Passando pelo Vale Árido”. Se desejar adquiri-lo, faça contato.eberlenzcesar@gmail.com