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Palmadas?

Palmadas?

Na semana passada, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou um antigo Projeto de Lei, de autoria de Maria do Rosário, do PT/RS. O texto aprovado diz o seguinte: “Menores de 18 anos têm o direito de ‘serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante’”. O referido castigo físico foi definido assim: “Ação de natureza disciplinar com uso da força física que resulte em sofrimento físico ou lesão à criança ou ao adolescente”. A simples palmada está incluída, até porque o projeto foi apresentado com o nome “Lei da Palmada”. Todavia, nesta reunião,  os deputados decidiram dar-lhe o nome de “Lei Menino Bernardo”, em homenagem a Bernardo Boldrini, recentemente assassinado no Rio Grande do Sul. Os principais suspeitos do crime são o pai e a madrasta.

Pais e educadores de bom senso apoiariam de bom grado essa e toda e qualquer lei que visasse proteger as crianças e os adolescentes da violência doméstica e da brutalidade tantas vezes praticada por pais, mães ou responsáveis. Todavia, é discutível se um “castigo físico” como as palmadas ou chineladas devem se incluídas. É bem possível ministrá-las por amor, com amor, sem causar “lesão à criança” e sem que as mesmas sejam “degradantes”. Sobre isto, faço algumas ponderações, incluindo experiências vividas, como criança (há muito tempo…) e como pai (há menos tempo…).

Antes de tudo, como cristão que sou, não posso deixar de referir uns poucos textos bíblicos sobre o assunto, até porque entendemos e cremos que a “Bíblia é nossa regra de fé e prática”, nossa norma de conduta.  O Sábio rei Salomão, de Israel, escreveu nos Provérbios:

  • “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela” (22.15).
  • “A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe (29.15).
  • “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo o disciplina” (13.24).
  • No Novo Testamento, temos esta intrigante passagem: “Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor… porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige. Mas, se estais sem correção… sois bastardos e não filhos” (Hebreus 12.5-8).

O instrumento de disciplina sugerido nestas passagens, a vara, lembra o contexto agrícola, e pode parecer-nos inadequado. Há quem diga que o uso da vara ou de um cinto é sugerido para que se evite usar a mão, preservando-se esta para o afago, o carinho. Mas, o que importa nestas e noutras passagens bíblicas é sua ênfase na necessidade de corrigir as crianças, de impor-lhes limites, de exercer disciplina, sendo que esta pode requerer o uso da “vara”, ou seja, de algum castigo físico razoável… e amoroso! Contraditório? Não, em absoluto! Vale repetir: “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo o disciplina” (13.24).

Tive o privilégio de nascer e crescer num lar cristão. Acho que não fui muito levado, mesmo assim, em certas ocasiões, mereci umas palmadas. Lembro-me perfeitamente, sem ressentimento, sem mágoas. Até porque nunca apanhei a ponto de ficar roxo e muito menos de sangrar. Não lembro de uma vez sequer em que meu pai (pastor) ou minha mãe tenham me esbofeteado ou me batido indiscriminadamente com, por exemplo, o cabo da vassoura. Pelo contrario, depois das palmadas, e do meu choro infantil, minha mãe voltava, assentava-se ao meu lado com uma Bíblia e me dizia algo assim: “Sabe por que você apanhou?” Eu dizia, entre soluços: “Porque eu desobedeci…” ou “Porque eu bati no meu irmão…” Ela, então, abria a Bíblia e me mostrava uns poucos textos que corrigiam tais procedimentos. E encorajava-me a orar e a pedir perdão aos envolvidos. Palmadas com amor! Só me fizeram bem. Anos mais tarde, jovem universitário, em seguida a algumas decisões e procedimentos cristãos, escrevi aos meus pais agradecendo-lhes a educação que me haviam dado.

Criei meus três filhos de modo semelhante. Os pais sabem que os filhos geralmente são diferentes uns dos outros. Assim sendo, um dos meus precisou de palmadas um pouco mais do que os outros dois. E, veja só, às vezes, depois de umas palmadas, sem derramar uma lágrima, perguntava: “Acabou? Posso ir?” Cinismo infantil! O outro, geralmente (não sempre) se arrependia com um simples olhar de repreensão… Em todos os casos, a primeira instância sempre foi cultivar a harmonia conjugal e familiar, o clima de fé e comunhão com Deus e com o Senhor Jesus, ler a Bíblia e orar, ensinar verbalmente e dialogar! Palmadas, quando necessário.

Foi nas ocasiões em que achamos necessário disciplinar fisicamente também que eu e minha esposa entendemos melhor o quanto os pais precisam amar os filhos para dar-lhes umas boas palmadas. Por duas razões: Porque é muito difícil e sofrido; parece que dói mais no coração dos pais do que na palma da mão ou no bumbum do filho. Aquele choro é de matar! Depois, porque é preciso antever o futuro, as influências negativas das companhias e do mundão e desejar o melhor para o filho, ou seja, um caráter bem formado.

Esta foi a nossa experiência, e parece que Deus a abençoou, pois nossos três filhos não têm ressentimentos, não ficaram marcados ou revoltados. Pelo contrário, são cristãos, vêm com frequência à nossa casa, nos têm respeito, e nos amam, assim como nós a eles. A filha é dentista, os filhos são pastores. Estão bem casados e os dois que têm filhos criam-nos com amor, Bíblia e, quando necessário, com privação de privilégios e também com palmadas…

Que as autoridades que fazem nossas leis, façam o melhor para restringir a violência que assola nossas cidades, inclusive a violência de pais inescrupulosos que não dão um bom exemplo para seus filhos e os maltratam e violentam. Mas não interfiram na forma como pais educados, responsáveis e amorosos criam seus filhos, mesmo quando achem necessário dar-lhes umas palmadas. A “Lei da Palmada” deve ser mesmo “Lei do Menino Bernardo”.

Pastor Éber Lenz Cesar (eberlenzcesar@gmail.com).

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Compartilho, com autorização, o comentário que o amigo Ebenézer A. de Oliveira fez a esta minha reflexão. Ele é Doutor em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade de Delaware, E.U.A., e Professor Titular de Psicologia da Universidade Malone, em Ohio, E.U.A.

Pastor Éber, muito interessante e bem oportuna a sua análise da “Lei da Palmada”,  que como algumas outras que hoje vemos no Brasil, desafiam até o bom senso… Nas pesquisas psicológicas que tenho acompanhado sobre o assunto, até mesmo entre incrédulos, há muitos dados que demonstram a eficácia da palmada não abusiva como medida disciplinar. Não é preciso ter valores bíblicos pra enxergar isso! Tem uma pesquisadora da Universidade da Califórnia, Diane Baumrind, que publicou muito sobre o que ela chama de “authoritative parenting” (traduzino no Brasil como “parentagem democrática-recíproca”) que combina o uso de autoridade/controle com afetividade, em contraste com o “permissive parenting” (parentagem permissiva) praticado por alguns pais modernos que deixam os filhos entregues à própria estultícia, ou o “authoritarian parenting” (parentagem autoritária) que oprime e agride abusivamente a criança, sonegando-lhe o afeto. Essa pesquisadora defende o uso da palmada estratégica usada por “authoritative parents” (pais democráticos-recíprocos) e mostra dados científicos sobre como os filhos tendem a se ajustar melhor na escola, respeitar autoridades e desenvolver melhor relacionamento com colegas porque se sentem seguros e, ao mesmo tempo, entendem e se ajustam bem a uma estrutura social com regras. Numa pesquisa que fiz com colegas no Rio Grande do Sul, também descobrimos que mães criadas na base do autoritarismo abusivo tendem a repetir o ciclo com seus filhos, que por sua vez apresentam problemas de conduta na escola. Porém, a melhor resposta ao mau uso de autoridade dos pais não seria renunciá-la ou relegá-la aos filhos, como fazem os pais permissivos (artigo publicado na revista brasileira Psicologia: Reflexão e Crítica, 15, 1-11). Espero que outros leitores também apreciem essa sua avaliação de uma lei infeliz.
 
Ebenézer A. de Oliveira

One Comment

  1. Boa noite: Graça e Paz a todos os Irmãos…
    Lendo esse texto sobre a Lei das Palmadas, aprovada na Câmera, e a experiência do irmão, que está em consonância com a Palavra de Deus, lembrei-me de tempos passados, bons tempos, na verdade, que incluíam as palmadas… Todavia, lembro-me também que já, então, havia espancamentos e maus tratos às crianças…

    Hoje, o que me intriga é que, em meio a tantos desafios relativos à Segurança Pública, Educação e Saúde, criamos uma lei que não vejo como prioridade… Neste mês de Maio, celebramos o Mês da Família…. Teria sido um momento oportuno para lembrar que uma família bem estruturada precisa de boa Educação, Segurança e Saúde…

    Missionário Jair e Silvia Maria

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