Como sobreviver em tempos de crise

“Os piedosos desapareceram do país; não há um justo sequer. Todos estão à espreita para derramar sangue… Com as mãos prontas para fazer o mal o governante exige presentes, o juiz aceita suborno, os poderosos impõem o que querem… Chegou o dia anunciado… o dia do castigo de Deus. Agora reinará a confusão entre eles… Pois o filho despreza o pai, a filha se rebela contra a mãe, a nora contra a sogra…”  (Miqueias 7.1-6).

Facilmente e sem exageros poderíamos usar estas palavras do profeta Miqueias para descrever a situação do Brasil atualmente. No entanto, estas frases foram escritas há cerca de 2.600 anos, num dos períodos de maior decadência moral de Israel. O texto descreve uma sociedade marcada pela violência, impunidade, corrupção, desestruturação familiar, desigualdade social e uma profunda miséria espiritual. Entretanto, veja o que diz o profeta, em seguida:

“Mas, quanto a mim, ficarei atento ao Senhor, esperando em Deus, o meu Salvador, pois o meu Deus me ouvirá” (v.7).

Esta deve ser também a nossa atitude e a nossa esperança em meio ao caos que estamos vivendo no Brasil e, certamente, em outras partes do mundo. O profeta nos ensina como sobreviver à crise.

1. “Ficarei atento ao Senhor”.

“Olharei para o Senhor”, lemos em outra versão. Quando as coisas vão mal, é comum perdermos o foco, desviar os olhos do Senhor para as coisas absurdamente erradas que nos cercam. Geralmente somos peritos em apontar culpados e diagnosticar soluções. Miqueias, no entanto, optou por ficar atento ao Senhor. No texto original, a palavra tem o sentido de prestar atenção, fixar o pensamento e confiar.

O rei Josafá, de Judá, quando numa situação de crise, ameaçado por nações vizinhas, orou na presença de todo o povo:

“Ó nosso Deus, não irás tu julgá-los? … Não sabemos o que fazer, mas os nossos olhos se voltam para ti”.

A resposta de Deus não tardou. O Espírito do Senhor lhes disse, por boca de um levita:

“Não tenham medo, nem fiquem desanimados… Pois a batalha não é de vocês, mas de Deus…  Permaneçam firmes e vejam o livramento que o Senhor lhes dará…”.

Josafá, então, encorajou o povo, dizendo:

“Tenham fé no Senhor, o seu Deus, e vocês … terão a vitória”. De fato, “quando começaram a cantar e a entoar louvores, o Senhor preparou emboscadas contra os homens de Amom, de Moabe e dos montes de Seir, que estavam invadindo Judá” (II Cr 20.10-22).

Olhar para o Senhor traz esperança e salvação!

2. “Esperarei no Deus da minha Salvação”.

Vivemos numa cultura de resultados rápidos. É o mundo dos caixas eletrônicos, dos fast-foods, dos aparelhos e remédios de emagrecimento rápido, mundo da Internet, do Whats-App, das informações instantâneas e globais. Esta declaração de Miqueias vai na contramão de tudo isto. Quem crê, espera e confia. Naquele seu contexto desolador, o profeta permaneceu atento ao Senhor, olhando para o Senhor e esperando nele.

3.  “O meu Deus me ouvirá” .

É difícil continuar acreditando quando tudo vai mal. A falta de “resultados” pode lentamente minar as esperanças de que algum dia as coisas podem realmente mudar. Alguém ainda acredita que o Brasil tem jeito? Miqueias acreditava que Deus o ouviria, um dia. Assim, continuava acreditando, esperando, lutando. No Salmo 5, o rei Davi afirma: “De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento a minha oração de aguardo com esperança”. Outra versão diz: “fico esperando” (v.3). Talvez o mais difícil da oração seja “ficar esperando”, continuar acreditando.

Viver num país assolado pela violência urbana, pela ambição desmedida, pela  corrupção, pela mentira, pelo descaso dos governantes e demais autoridades, e pela impunidade não é fácil. Continuar acreditando e continuar otimista é ainda mais difícil… Mas é possível, se permanecermos focados no Senhor e em suas promessas, orando, esperando e confiando.

Texto do Pr. Clinton Lenz César, publicado no boletim da Igreja Presbiteriana Luz do Mundo, em 21/01/2007. Tão atual quanto na época…