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Aqui e lá

Aqui e lá

Onde você gostaria de estar agora? Estando aqui, no Brasil, tem ou já teve um forte desejo de estar lá, num determinado país estrangeiro? Estando lá, sentiu saudades de sua pátria e de seus queridos, e quis estar aqui? 

Morei na África do Sul por algum tempo. A despeito das belezas naturais do país, das novas amizades e do trabalho missionário que realizávamos, sentíamos, eu e minha família, uma saudade enorme do Brasil, dos parentes, dos amigos, da nossa cultura. Pensávamos nisso aqui. É assim mesmo. Apesar dos pesares, os brasileiros que saem do Brasil, têm saudades daqui. Por que? Porque estão aculturados nesse país e amam isso aqui.

Nós, os que cremos em Cristo e o recebemos como nosso Salvador e Senhor, amamos nossa pátria, sim. Entretanto, amamos ainda mais uma outra pátria… e pensamos nela o tempo todo. Pelo menos deveríamos!

O Dr. Oswald Smith, quando ainda vivo e pastoreando a Igreja do Povo, em Toronto, Canadá, escreveu um livro intitulado “O País que eu mais amo”. Não escreveu sobre o Canadá, sua pátria terrena, mas sobre a Pátria Celestial. E ele já se mudou para lá, definitivamente.

O apóstolo Paulo, antes de sua conversão a Cristo, orgulhava-se de sua nação e de sua cidadania terrena: “… sou da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus…”  (Fp 3.5). Depois de sua conversão, mudou o discurso. Passou a falar de um amor maior, de uma motivação mais forte, de uma cidadania superior, de uma outra Pátria:

“O que, para mim era lucro [a tal cidadania israelita e outros valores], isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor… Pois a nossa pátria está nos céus, de onde aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3. 7-8,20).

Mesmo com esse novo e maravilhoso direcionamento aqui, o apóstolo desejava estar lá!  Confessou estar constrangido com isso, dividido:

Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e de outro lado estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Mas, por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne” (Fp 1.21-24).

Estava feliz aqui, servindo a Cristo, pregando o evangelho, e, quem sabe, poderia fazer ainda muito mais! Todavia, anelava “partir e estar com Cristo”. E isto mesmo sabendo que para estar lá, com Cristo, teria que atravessar o vale da sobre e da morte!  Mas não tinha medo não! Sabia que, no fim, seria lucrativo!

Entretanto, o apóstolo sabia também  que a decisão não era sua, assim como não é nossa… Importava-lhe (e a nós) apenas isto: “Se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivemos ou morramos, somos do Senhor” (Rm 14.8). 

Agora, um pensamento novo, talvez mais difícil de entender. Num sentido, nós já estamos !  Como assim? A conversão cristã é uma experiência tão profunda e transformadora que o apóstolo Paulo comparou essa experiência com morte, ressurreição e ascensão de Cristo.

“Deus, sendo rico em misericórdia… e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo… e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais” (Ef 2.4-6).

Quando cremos em Cristo e o recebemos como nosso Salvador e Senhor, morremos para a vida de pecado e incertezas, e ressuscitamos para uma nova vida de santidade e esperança. E mais, quando Cristo, ressurrecto, subiu para o Céu, nós, por assim dizer, subimos com ele… Então, num sentido espiritual, já estamos lá, somos de lá. Jesus disse aos seus discípulos: “Não sois do mundo!” (Jo 15.19). Pedro dizia que, enquanto aqui, somos “peregrinos e forasteiros” (l Pe 2.11). Daí a propriedade das palavras de Paulo aos cristãos de Colossos: 

“Se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus…” (Cl 3.1-3).

Não podemos deixar de pensar um pouco nas coisas que nos cercam e nas que nos são necessárias nesta vida terrena, mas precisamos ter em mente, sempre, que estas coisas são contingenciais, temporais, perecíveis. Não justificam a vida. Esta justifica-se e vale a pena quando pensamos nas coisas lá do alto, quando, no dizer de Jesus,  “ajuntamos tesouros no céu, não na terra”, quando vivemos para Cristo e, como instrumentos seus, anunciamos sua mensagem de paz, amor e salvação (Mt 6.19-21).

Essa mensagem é primeiramente para o seu conforto, porque as coisas não andam muito fáceis por aqui, ao passo que é incomparavelmente melhor. 

Todavia, esta mensagem é também uma admoestação, porque, muitas vezes, pensamos só ou mais intensamente nas coisas daqui e não nas de lá. Faz uma grande diferença!

Éber Lenz César, Igreja Sal da Terra Brasília, 30/05/2021. On-line

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