V. Acomodação espiritual
Série: Olhos que veem
V. Acomodação espiritual
Quando nos movemos da luz para as trevas e vice-versa, duas coisas acontecem com os nossos olhos:
- Se o ambiente é mais escuro, as pupilas de abrem permitindo a entrada de mais luz; se é mais claro, as pupilas se fecham para restringir a entrada de luz.
- A retina, que, como se sabe, é o fundo dos olhos, converte a luz em impulsos nervosos e os envia para o cérebro na forna de visão. Esse processo toma algum tempo, razão porque são necessários alguns minutos até que nossos olhos se ajustem ou à escassez ou ao excesso de luz.
Se nos movemos rapidamente de um ambiente diurno, ensolarado, para um ambiente escuro, como o interior de um cinema, num primeiro momento, não enxergamos nada. Passados alguns minutos, nossos olhos se adaptam (as pupilas se abrem), e podemos encontrar um assento desocupado… (Uma vez, não esperei o suficiente e acabei sentando no colo de uma senhora!). O contrário acontece quando terminada a matinê, saímos para a rua. A luz intensa nos ofusca por uns momentos…
Essa acomodação visual pode ser ainda mais lenta… e imperceptível. Suponha que você esteja numa cadeira na varanda, num final de tarde, lendo um livro. Passados 40 minutos ou mais, sua esposa chega à porta e lhe diz: “Querido, como você consegue ler no escuro?” Só então você se apercebe… Seus olhos se ajustaram gradualmente. Você se acostumou com a penumbra, sem o perceber.
Analogia espiritual
Esse último exemplo, mais que os anteriores, tem perfeita equivalência na vida espiritual. Por exemplo: jovens de bons costumes, quando ingressam numa Universidade, são confrontados com conceitos, ideologias e procedimentos, digamos, deferentes: Filosofia liberal, sexo sem compromisso, drogas, etc. Do ponto de vista bíblico, pode-se dizer que o jovem, que até então viveu na luz, agora precisa estar num ambiente de pouca ou nenhuma luz. O desafio é não se acomodar, não se corromper. Algo semelhante pode-se dizer de adultos cristãos no ambiente de trabalho, e de políticos no Governo…
Há muita “gente boa” neste mundo, independentemente da religião que confessam, se é que têm alguma. Entretanto, a Bíblia distingue cristãos e não cristãos, e afirma que os cristãos, os que creem em Deus e em Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor, estão na luz, ao passo que os que não creem e vivem “sem Cristo” estão nas trevas, trevas espirituais. Cito algumas passagens bíblicas:
“… a luz de Deus veio ao mundo, mas as pessoas amaram mais a escuridão que a luz, porque seus atos eram maus. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima dela, pois teme que seus pecados sejam expostos. Mas quem pratica a verdade se aproxima da luz, para que outros vejam que ele faz a vontade de Deus” (Jo 3.19-21).
No Velho Testamento, o justo Jó, sofrendo sérios revezes, sentiu-se incomodado achando que os perversos não são castigados por seus atos. Ele comentou:
”Os perversos se revoltam contra a luz… O assassino se levanta bem cedo, para matar os pobres e os necessitados; à noite ele se torna ladrão. O adúltero espera o cair da noite, pois pensa: ‘Ninguém me verá’… Os bandidos arrombam casas à noite e dormem durante o dia; não estão acostumados com a luz. A noite escura é sua manhã; aliam-se aos terrores da escuridão” (Jo 24.13-17).
O perigo da acomodação
Temos a impressão, senão a triste certeza, de que, nestes tempos modernos de relativismo ético, as trevas morais e espirituais do mundo têm se tornado ainda mais densas. Independentemente de seu status intelectual e social, e até mesmo de sua procedência religiosa, as pessoas têm se acomodado à escuridão que as cerca. Em muitos contextos e culturas, o pecado vai deixando de ser pecado…
Entretanto, desde os tempos bíblicos, Israel, no Velho Testamento, e a Igreja, no Novo Testamento, têm sito advertidos no sentido de não se acomodarem às trevas do mundo. Os cristãos não são melhores, potencialmente; mas, pela graça de Deus, foram redimidos e convertidos pelo poder do Evangelho e pela presença espiritual de Cristo em sua vida. O apóstolo Paulo orou pelos cristãos de Colossos, dizendo:
“Que sejam cheios de alegria e sempre deem graças ao Pai. Ele os capacitou para participarem da herança que pertence ao seu povo santo, aqueles que vivem na luz. Ele os resgatou do poder das trevas…” (Cl 1.11-13).
O mesmo apóstolo escreveu aos cristãos de Tessalônica:
“Todos vocês são filhos da luz e do dia. Não pertencemos à escuridão e à noite. Portanto, fiquem atentos… À noite, as pessoas dormem e os bêbados se embriagam, Mas nós, que vivemos na luz, devemos ser sóbrios… Porque Deus decidiu nos salvar por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Ts 5.4-9).
Lamentavelmente, no transcorrer da história da igreja, muitos cristãos se acomodaram às trevas morais e espirituais deste mundo. Hoje, ao que parece, essa acomodação segue mais rápida e plena. Em certas comunidades ditas cristãs, não se percebe mais “a diferença entre o justo e o mau, entre o que serve a Deus e o que não o serve” (Ml 3.18).
Como não se acomodar às trevas do mundo?
Intensificando a comunhão com Deus e com Cristo. O apóstolo Joao escreveu: “Deus é luz, e nele não há escuridão alguma. Portanto, se afirmamos que temos comunhão com ele mas vivemos na escuridão, mentimos e não praticamos a verdade” (I Jo 1.5). Não dá para ser crente, filho e amigo de Deus, e acomodar-se com as trevas deste mundo. Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo. Se vocês me seguirem, não andarão no escuro…” (Jo 8.12). Pelo contrário, tornamo-nos luz para os que nos cercam. Jesus também disse aos seus discípulos: “Vocês são a luz do mundo… Suas obras devem brilhar, para que todos as vejam e louvem seu Pai que está no céu” (Mt 5.14-16). O mundo não pode enfraquecer ou apagar a luz de Cristo que está em nós. Ao contrário, a luz de Cristo em nós deve iluminar os que estão nas trevas.
Estudando e praticando a Palavra de Deus. O Salmista escreveu: “Tua Palavra é lâmpada para meus pés e luz para meu caminho” (Sl 119.105). Nossos padrões não podem ser determinados pela sociedade, nem por nossos amigos, nem por nós mesmos. Como geralmente dizem os novos convertidos quando são batizados e admitidos da comunhão da igreja:
“Cremos que a Palavra de Deus é nossa única e suficiente regra de fé e prática”.
Conclusão
Se somos cristãos verdadeiros, discípulos de Cristo; se, como escreveu o apóstolo Pedro, “Deus nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (II Pe 2.9), vivamos nessa luz! Não nos acomodemos, jamais, por pouco que seja, às trevas deste mundo. Não precisamos negar nossa cultura, mas, sim, filtrar e rejeitar o que não convém aos filhos da luz. Exemplo: o linguajar áspero e profano, as mentiras, o egoísmo, a ganância, a corrupção, a moda sensual apelativa, as práticas sexuais extra conjugais, os vícios, o aborto, a ideologia de gênero, etc, etc.
Por fim, lembro o que o apóstolo Paulo escreveu aos cristãos Romanos:
“Não imitem o comportamento e os costumes deste mundo…” (12.2).
Éber Lenz César (eberlenzcesar@gmail.com)
Leia as outras mensagens desta série