A providência de Deus
Como reagem as pessoas diante dos fatos felizes ou trágicos da vida? Tais coisas acontecem por acaso? Por sorte ou azar? Os que acreditam em Deus e têm fé vêem as coisas boas como bênçãos divinas… Entretanto, geralmente, quando lhes sobrevém adversidades, têm dúvidas sobre o poder, amor e bondade de Deus. As perguntas mais frequentes são: “Por que, meu Deus?”, “Por que isso aconteceu comigo? Por que não o impediste?”
A fé enfraquece ou mesmo se esvai por falta de um melhor conhecimento de Deus ou, mais especificamente, de sua providência. Essa doutrina maravilhosa, fartamente ensinada na Bíblia, quando compreendida, revigora a nossa fé, faz-nos profundamente agradecidos quando as coisas vão bem, e nos conforta e encoraja quando nos deparamos com a adversidade. São provações porque nos põem à prova.
A Confissão de Fé de Westminster, que expõe detalhadamente as doutrinas bíblicas aceitas e vivenciadas pelas igrejas bReformadas, define assim as obras da providência de Deus: “… são a sua maneira muito santa, sábia e poderosa de preservar e governar todas as suas criaturas, e todas as ações delas”. É isso mesmo? Deus governa tudo e todos? “Então por que…?” Sim! Sim! Sim! Deus está no controle de tudo, mesmo quando não parece… Vou mencionar apenas um pouco do que a Bíblia diz a respeito.
1. Deus sustenta e preserva todas as suas criaturas.
“Só tu és Senhor. Tu fizeste o céu… a terra… os mares e tudo quanto neles há; e tu preservas a todos com vida” (Ne 9.6).
“Todos esperam de ti que lhes dês de comer a seu tempo. Se lhes dás, eles o recolhem; se ocultas o teu rosto, eles se perturbam; se lhes cortas a respiração, morrem” (Sl 104.27-29).
“O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe… Ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo o mais… Nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17.24-28; Cl 1.17).
2. Deus governa todas as suas criaturas.
Deus é o Rei do Universo, o Soberano absoluto sobre tudo e todos. Ele governa o mundo físico e o mundo espiritual.
“Nos céus estabeleceu o Senhor o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo” (Sl 103.19). “Deus é o Rei de toda a terra…” (Sl47.7).
“Segundo sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem dizer- lhe: Que fazes?” (Dn 4.35).
Deus governa a natureza (Jó 37.1-13 Sl 147.7- 9,15-18), os animais (I Re 17.4-6 Dn 6.22), os homens (Pv 16.9 Pv 21.1 Fl 2.13), as circunstâncias (Gn 24.42-48 Gn 45.5-8 At 16.6-10), s história (Jó 12.23; Is 10.5ss Dn 2.21,36- 45), e coisas aparentemente insignificantes (Pv 16.33; Mt 10.29-31).
3. A providência de Deus e a liberdade do homem.
Entretanto, Deus criou o homem “à Sua imagem e semelhança”. A liberdade de escolha, o chamado livre arbítrio, é parte desta imagem e semelhança. Será que, com a queda, ou seja, primeiro pecado, o homem perdeu o livre arbítrio? Num certo sentido, sim. Ele perdeu a liberdade e a capacidade para escolher e realizar o que é bom aos olhos de Deus; por si mesmo, ele não deixa o pecado, não busca a Deus, não responde favoravelmente ao convite do evangelho; não crê em Cristo. Isto só acontece mediante uma operação sobrenatural da graça de Deus (Jo 6.44; 8.34,36; Rm 8.7,8). Num outro sentido, o homem ainda é livre. Os exemplos a seguir tornarão isto mais claro.
a) Os irmãos de José agiram livremente quando o venderam como escravo para o Egito. No entanto, anos mais tarde, José lhes disse, no Egito: “Não fostes vós que me enviastes para cá, e, sim, Deus…” (Gn 37.24-28; 45.8; 50.20). José reconheceu a providência e o propósito de Deus em tudo o que lhe havia acontecido.
b) Senaqueribe, rei da Assíria, agiu livremente quando “subiu contra as cidades fortificadas de Judá, e as tomou” (II Re 18.13). Ele não sabia que estava cumprindo os decretos de Deus. Estava escrito: “Ai da Assíria, cetro da minha ira! A vara em sua mão é o instrumento do meu furor…” (Is 10.5ss. Note v.12).
c) Os judeus e suas autoridades agiram livremente quando se opuseram a Jesus e pediram a Pilatos que o crucificasse. Mas isto estava profetizado, era plano de Deus: “Depois de cumprirem tudo o que a respeito dele (Jesus) estava escrito, tirando-o do madeiro, puseram-no em um túmulo…” (Jo 13.27-30. Ver At 4.26-28).
As ações livres e más dos homens são providenciais porque são permitidas por Deus, com um propósito. Não é assim quando os homens fazem o bem. As boas ações dos homens são providenciais porque são induzidas por Deus. Os maus fazem o mal com a permissão de Deus; os bons são bons e fazem o bem porque Deus os induz a isto, graciosamente. A culpa pelo mal praticado é sempre do homem; o louvor pelo bem realizado deve ser tributado a Deus (I Co 15.10).
4. O valor da doutrina da Providência de Deus.
a) Corrige as heresias panteísta e deísta. O Panteísmo confunde Deus com o mundo; entende que tudo é Deus. O Deísmo separa Deus do mundo; entende que Deus criou o mundo, estabeleceu leis, colocou-o em movimento e deixou-o para lá. Nós somos teístas. Cremos num Deus distinto e eternamente anterior à Criação; um Deus presente, que sustenta, preserva e dirige tudo.
b) Significa que Deus cuida de todos os assuntos que nos dizem respeito. Não estamos à mercê de forças arbitrárias, impessoais, como querem os fatalistas. Reconhecemos a Providência de Deus em tudo (Pv 3.5-6).
c) Nos faz mais humildes e, todavia, mais confiantes. Vivemos num mundo violento e inseguro. É bom saber que Deus cuida de nós… Daí a recomendação inspirada do apóstolo Pedro: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus… lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (I Pe 5.6-7). A auto-confiança e o orgulho cedem na medida em que reconhecemos nossa dependência de Deus para sustento e governo.
e) É um grande consolo face às dificuldades e dissabores que resultam do pecado, nosso e da humanidade, pois, sob o governo de Deus, “todas as coisas cooperam para o bem… “ (Rm 8.28).
Pr. Éber Lenz César
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