Rendei Graças ao Senhor
História do Dia de Ação de Graças
No dia 6 de dezembro de 1620, o navio Mayflowers (Flores de Maio) partiu de Plymouth, na Inglaterra, rumo ao Novo Mundo, a América recém descoberta. Levava 102 Protestantes, homens, mulheres e crianças. Era uma época de corrupção, negócios ruins e perseguição religiosa. Aqueles Protestantes piedosos, também chamados Puritanos, resolveram tentar vida nova no Novo Mundo. Eles foram os primeiros colonizadores da América, e são referidos na história americana como Pilgrims (peregrinos, forasteiros).
No início, os Pilgrims sofreram muito no seu Novo Mundo. Eles não tinham experiência no cultivo da terra, não sabiam caçar e não estavam preparados para o clima local. Tiveram que construir suas casas às pressas, antes do inverno; e, no transcorrer dessa estação, faltou-lhes alimento e aquecimento adequado. Alguns morreram de fome, de frio ou por outras causas.
Na região onde os Pilgrims se estabeleceram, os nativos se mostraram amigos, e lhes ensinaram a lavrar a terra, plantar e caçar. No ano seguinte, eles ficaram maravilhados com a colheita que tiveram e também com a pesca e a caça abundantes. Reuniram-se, então, para comemorar e agradecer a Deus por todas aquelas bênçãos. Essa comemoração, com ação de graças, passou a ser feita todos os anos, depois da colheita.
Anos mais tarde, por volta de 1790, o primeiro Presidente dos Estados Unidos, George Washington, fez uma proclamação a favor dessa celebração, e sugeriu que a mesma acontecesse sempre no dia 26 de novembro. Seria uma expressão nacional de gratidão a Deus por suas bênçãos.
Em 1863, o Presidente Abrahan Lincoln, 160 Presidente dos Estados Unidos, determinou que a última quinta-feira de novembro fosse o Thanks Giving Day (Dia de Ação de Graças). Hoje, nos USA, essa celebração é tão importante como o Christmas Day ou Natal.
Em 1909, Joaquim Nabuco, embaixador do Brasil nos Estados Unidos, assistiu a um culto no Dia de Ação de Graças. Ficou tão impressionado, que disse: “Quisera que toda a humanidade se unisse, num mesmo dia, para um universal agradecimento a Deus”. Ele trouxe a idéia para o Brasil. Em 17 de agosto de 1949, o Presidente Eurico Gaspar Dutra instituiu o Dia Nacional de Ação de Graças no Brasil, sempre na quarta quinta-feira do mês de novembro.
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Ações e graças na Bíblia
Na Bíblia, há inúmeras passagens recomendando ou mesmo ordenando que sejamos agradecidos a Deus por suas bênçãos. No Velho Testamento, destacam-se alguns Salmos. Talvez os mais enfáticos sejam os Salmos 105, 106, 107 e 136.
O Sal 105 começa com esta exortação:
“Rendei graças ao Senhor […]. Fazei conhecidos entre os povos os seus feitos […]. Narrai todas as suas maravilhas […].” (Segue-se um resumo de tudo que Deus fez por Israel no decorrer de sua história, e que Israel devia agradecer).
O Salmo 106 é semelhante, e vou comentá-lo mais à frente.
O Salmo 107 menciona quatro situações de angústia por que Israel passou. Em cada relato, ocorrem estas palavras, como estrofe ou estribilho de um hino:
“Então, na sua angústia, clamaram ao Senhor, e ele os livrou das suas tribulações […]. Rendão graças ao Senhor por sua bondade e por suas maravilhas para com os filhos dos homens!” (Vs. 6-8,13-15, 19-21, 28-31).
O Salmo 136 começa repetindo três vezes a mesma exortação:
“Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom […], porque a sua misericórdia dura para sempre.”
Na sequência, e até o final, o salmista menciona, em cada versículo, um dos feitos maravilhosos de Deus na história de Israel, repetindo sempre: “[…] porque a sua misericórdia dura para sempre.”
Este é o motivo principal porque devemos ser agradecidos a Deus: “[…] porque ele é bom […], porque a sua misericórdia dura para sempre.”
No Novo Testamento, há também várias passagens que recomendam o louvor e a gratidão a Deus. O apóstolo Paulo escreveu aos Efésios que o crente cheio do Espírito Santo conversa sobre a Bíblia, louva de coração ao Senhor e por tudo lhe dá graças (Ef 5.18-20). Aos Filipenses, este mesmo apóstolo escreveu essas conhecidas palavras:
“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças […]” (Fp 4.6-7).
A propósito, o famoso e piedoso C. Spurgeon (XIX), dizia: “Para nós, cristãos, deve ser um hábito tanto pedir como agradecer.”
Salmo 106
Como já enfatizamos, neste e noutros Salmos, o salmista nos diz porque devemos render graças ao Senhor:
“Porque ele é bom; porque a sua misericórdia dura para sempre!”
É importante notar que nos versos seguintes, o Salmista lembra as murmurações, a rebeldia, a idolatria e outros pecados de Israel e, em cada caso, os corretivos de Deus. Mas ele mostra também, e principalmente, o quanto o Senhor foi bondoso e misericordioso com o seu povo, mesmo quando os puniu por seus pecados. Esta é parte da oração do salmista neste Salmo, falando por si e pelo povo:
“Pecamos, como nossos pais; cometemos iniquidade, procedemos mal. Nossos pais, no Egito, não atentaram às tuas maravilhas; não se lembraram da multidão das tuas misericórdias, e foram rebeldes junto ao mar, o Mar Vermelho. Mas ele os salvou […]. Então, creram nas suas palavras e lhe cantaram louvor.”
“Cedo, porém, se esqueceram das suas obras, e não lhe guardaram os desígnios… Esqueceram-se de Deus, seu Salvador […]” (vs.6-23).
O salmista menciona ainda outros pecados de Israel: murmuração, idolatria, imoralidade, etc. Houve um tempo em que Israel chegou a sacrificar seus bebês em adoração aos ídolos pagãos das nações vizinhas:
“Mesclaram-se com as nações e lhes aprenderam as obras; deram culto a seus ídolos […], imolaram seus filhos e suas filhas aos demônios…” (Vs. 35-38).
Deus se irou contra eles, e os castigou. Mas, como dito, o salmista destaca a bondade e a misericórdias do Senhor, que dura para sempre:
“Muitas vezes os libertou […]. Olhou-os quando estavam angustiados e lhes ouviu o clamor […] e se compadeceu, segundo a multidão de Suas misericórdias” (vs. 43-46).
Parece que alguma coisa Israel aprendeu, pois no fim, o salmista registrou esta oração que os judeus fizeram ainda sob disciplina, no Exílio:
“Salva-nos, Senhor, nosso Deus, e congrega-nos de entre as nações, para que demos graças ao teu santo nome, e nos gloriemos no teu louvor. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel!, de eternidade a eternidade; e todo o povo diga: Amém! Aleluia” (vs.47).
Então, este Salmo começa com uma exortação e termina com um louvor. A exortação no primeiro versículo é para agradecer: “Rendei graças ao Senhor!” O louvor, no último versículo, é expressão da gratidão: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel!, de eternidade a eternidade!”
Conclusão
Uma vez Jesus curou dez leprosos. Somente um voltou para dar-lhe graças. Jesus manifestou sua estranheza, senão tristeza: “Não eram dez os que foram curados? Onde estão os outros nove?” (Lc 17.7). Somos dos que voltam para agradecer, ou simplesmente seguimos em frente, alegres com as bênçãos recebidas? Todos temos sido abençoados com muitas provisões divinas: saúde, trabalho, sustento, alimentação, roupas, casa e muitas outras coisas. Estas são bênçãos materiais e circunstanciais (Tg 1.17). O que dizer das bênçãos espirituais. O apóstolo Paulo escreveu sobre estas:
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo […]” (v.3).
Quais bênçãos espirituais? O apóstolo menciona:
- Nossa eleição e predestinação
- Nossa adoção como filhos
- O selo do Espírito Santo, garantia da nossa herança celestial
Não é pouca coisa! Reconhecemos? Somos agradecidos? Donald G Barnhouse, pastor americano, dizia: “Como é estranho que o Senhor Deus tenha de insistir com aqueles que salvou para que lhe demonstrem gratidão!”
Que nossas orações e cânticos de gratidão não sejam formais, da boca para fora, mas resultem de um coração realmente agradecido. A verdadeira gratidão, além disso, afeta nossa maneira de viver e nos relacionarmos com Deus e com sua Palavra: O escritor cristão, John Blanchard, escreveu:
“A gratidão mais apropriada, a que mais agrada a Deus, e a de uma vida piedosa.” Eu acrescentaria: “Um vida de obediência e serviço a Deus e à causa de Cristo”
Então, irmãos amados, sejamos agradecidos. Se, como dizemos: “Deus é bom o tempo todo!”, sejamos “agradecidos o tempo todo”, sinceramente, de coração. Não há porque murmurar, reclamar da vida, ficar ansioso, triste (senão por motivos reais e passageiros). Encontraremos alegria verdadeira e duradoura recordando e agradecendo tudo o que o Senhor tem feito por nós, vivendo piedosamente e servindo à causa de Cristo e ao próximo.
“Aleluia! Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre […]. Bendito seja o Senhor […]. E todo o povo diga: Amém!”
Éber Lenz César, Brasília. Mensagem pregada na Igreja Sal da Terra Brasília, em 24/11/2024, a propósito do Dia de Ação de Graças.