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"Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês." 1 Pedro 3:15

Histórias do Natal: II. João Batista, o precursor

Lucas 1.13-17, 57-66; 3.1-14

Na pequena cidade de Judá onde viviam Zacarias e Isabel,  não se  falava de outra coisa:  “Um anjo apareceu a Zacarias… Isabel vai  ter um filho… Quem diria?”

Foram meses de expectativa geral.  Então, “A Isabel cumpriu-se o tempo de dar à luz, e teve um filho” (v.57).   Vizinhos e parentes reconheceram “que o Senhor usara de grande misericórdia para com ela, e participaram do seu regozijo” (v. 58).  Passados exatos oito dias,  Zacarias e Isabel, como bons judeus,  levaram o menino ao templo de Jerusalém para que fosse circuncidado e consagrado.  Era  tempo de dar nome à criança. Alguns sugeriram que lhe dessem o nome do pai, mas Zacarias e Isabel , obedecendo à determinação do anjo, chamaram-no de João. O nome significa  graça ou favor de Deus.

Em face desta graça concedida a Zacarias e Isabel

“…todos os seus vizinhos ficaram possuídos de temor”, e diziam: “Que virá a ser, pois, este menino?” (vs.65-66).

Esta é, ainda hoje,  a pergunta que pais, parentes e amigos fazem quando nasce uma criança. Zacarias e Isabel, muito excepcionalmente, souberam, de antemão, qual seria o caráter do filho e o que ele faria na vida. O anjo lhes antecipou estas informações.

O caráter de João.

O anjo disse a Zacarias:

“… ele será grande diante do Senhor, não beberá vinho nem bebida forte, será cheio do Espírito Santo, já do ventre materno…” (1.15).

Note: “Ele será grande diante do Senhor…” O mundo geralmente avalia as pessoas por sua beleza física, por sua cultura,  por seu dinheiro, por seus bens. Mas Deus vê o coração, o caráter, a espiritualidade.  João foi um homem simples, “usava vestes de pêlos de camelo, e um cinto de couro”“sua alimentação era gafanhotos e mel silvestre” (Mt 3.4). Jesus disse uma vez que João não usava roupas finas, nem vivia em palácios (Lc 7.25).  Além disto, por toda a sua vida, ele nunca bebeu vinho nem bebida forte, e foi um homem cheio do Espírito Santo (Lc 1.15. Ver Ef 5.18). E “a mão do Senhor estava com ele” (Lc 1.66).  Por  todos  estes motivos, Jesus testemunhou a respeito de João, dizendo: “Entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João…” (Lc 7.25-28).

A missão de João.

O anjo disse também: 

“E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus. E irá adiante dele no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado” (1.15-17).

Num sentido, o missão de João foi única, pois ele preparou o caminho para o ministério terreno de Jesus. Noutro sentido, porém, ele fez o que todos os crentes cheios do Espírito Santo podem e devem fazer:  converter pessoas a Deus e a Cristo, ser um instrumento de Deus para reconciliar pais e filhos, para fazer que os desobedientes obedeçam a Deus, para preparar o caminho para Cristo nas vidas das pessoas.

Os pais sempre querem que seus filhos sejam grandes. Não tem nada errado com isto. Mas é preciso que saibam em que consiste a verdadeira grandeza. João foi o maior porque seus pais foram piedosos e obedientes a Deus, e porque ele próprio, João, auxiliado pelo Espírito, creu em Cristo (Jo 1.32-34) e viveu uma vida simples, separada para Deus e consagrada ao serviço de Deus no mundo. Não podemos desejar e pedir a Deus nada melhor para nós próprios e para os nosso filhos.

O chamado de João (Lc 3.1-14).

O evangelista inicia este relato situando historicamente o chamado e o início do ministério de João.

Foi “no décimo-quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes tetrarca da Galiléia, seu irmão Filipe tetrarca da região da Ituréia e Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene, sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás…” (vs.1-2a).

Não vamos  comentar aqui o caráter e o desempenho destes líderes políticos e religiosos. Basta-nos saber que uns e outros foram extremamente corruptos, e que aquela foi uma época sombria da história. Ora, foi justamente naqueles dias difíceis que “veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto” (v.2b).  Saibamos não desesperar nem por nós mesmos nem pela causa do Senhor quando predominam a incredulidade, a imoralidade, a corrupção, a violência e a miséria. Deus pode estar preparando a redenção, e se manifestará oportunamente, mesmo no meio da crise.

João estava “no deserto” quando Deus lhe falou. Talvez tivesse ido para o deserto da Judéia a fim de preparar-se para o ministério que Deus tinha para ele, segundo as palavras do anjo a Zacarias, seu pai  (1.15-17).  Moisés também estava no deserto quando Deus o chamou para libertar Israel da escravidão do Egito (Êx 3-4); o próprio Jesus passou quarenta dias no deserto antes de começar o seu ministério (Lc 4); Paulo passou três anos nos desertos da Arábia antes de dar início às suas viagens missionárias (Gl 1.15-17). É no isolamento e na quietude do “deserto” ou do quarto fechado que melhor podemos ouvir a voz de Deus e preparar-nos para o ministério que ele tem para nós, qualquer que seja.

Ministério preparatório.

Depois que a Palavra de Deus veio a João, no deserto,

“ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados” (v.3).

O ministério de João consistiu em chamar os homens ao arrependimento, isto é, a uma mudança de mente em relação ao pecado, a fim de que pudessem receber a Jesus.  Seu batismo  teve o único valor de testemunhar externamente esse arrependimento. João preparou o caminho para o ministério mais amplo e completo de Jesus, o Salvador.

O  povo, a princípio,  pensou que João fosse o Cristo (Messias, no hebraico), mas João os corrigiu, dizendo: “Eu não sou o Cristo” (Jo 1.20), e “Eu na verdade vos batizo com água, mas vem o que é mais poderoso do que eu… Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (v.16). Este outro batismo, o de Cristo,  não seria símbolo da mudança de mente apenas, mas também da mudança de coração e de natureza.

Preparando o caminho para Jesus, João cumpriu uma antiga profecia, agora lembrada por Lucas:

“Voz do que clama no deserto, preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Todo vale será aterrado, e nivelados todos os montes e outeiros; os caminhos tortuosos serão retificados, e os escabrosos, aplanados; e toda a carne verá a salvação de Deus” (vs. 4-6; Is 40.3-5).

“Preparai o caminho do Senhor!” Como?

  • Aterrando os “vales” das omissões: falta de oração, falta de leitura bíblica, falta de amor, falta de perdão…
  • Nivelando os “montes e outeiros” dos excessos: ambição desmedida, trabalho excessivo, doutrinas espúrias, religiosidade desequilibrada, fanática, televisão demais…
  • Retificando os “caminhos tortuosos” da  moralidade: o consumismo egoísta, a corrupção, a desonestidade, o sexo pré-conjugal e extraconjugal, o homossexualismo…
  • Aplanando  os “caminhos escabrosos” ou acidentados dos relacionamentos: mau gênio, agressividade, desrespeito, palavras duras…

Com tais correções, possíveis mediante o arrependimento sincero e o  retorno a Deus, “toda carne verá a salvação de Deus” , ou seja, o que Deus pode fazer em nossas vidas, em nossos lares, em nossas igrejas, em nossa sociedade.

O método de João.

Uma  palavra final  sobre  o método  empregado por João. Não foi nem convencional nem tão brando como as pessoas gostariam que fosse. Para sensibilizar os ouvintes e levá-los ao arrependimento,  a “voz do deserto” usou expressões as mais fortes:

“Raça de víboras, quem voz induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento…” (vs. 7-9).

Deu certo. As pessoas, sensibilizadas, quiseram saber o que fazer, e quais seriam os “frutos dignos de arrependimento”.

  • Às multidões, de modo geral, João disse:  “Quem tiver duas túnicas, reparta com quem  não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo.” Em outras palavras: Se vocês estão mesmo arrependidos de seu egoísmo e desamor, comecem a repartir o que têm.”
  • Aos publicanos, cobradores de impostos,  cujo pecado principal era a ganância e a desonestidade,  o pregador disse: “Não cobrem mais do que o estipulado.”
  • E aos soldados, muitas vezes violentos e corruptos, ele disse: “Não usem de violência, não aceitem suborno.”

Os pregadores de hoje precisam estar mais tempo no “deserto” a fim de pregar a Palavra de Deus com mais firmeza e coragem, sem omitir o amor e a brandura, claro. Em muitas circunstâncias, poderá ser proveitoso abrir um espaço na liturgia dos cultos para o povo responder à pregação e perguntar: “Que faremos?” Isto aconteceu durante as pregações de João, de Jesus, de Pedro, de Paulo. Em resposta a tais indagações, resultantes da inquietação suscitada pela pregação, o pregador poderá fazer aplicações específicas da mensagem, como o fez João Batista.

Por outro lado, as congregações hodiernas precisam receber a Palavra com mais sensibilidade, inquirir, e, sobretudo, produzir “frutos dignos de arrependimento”. O resultado será o mesmo de então:

“Toda carne verá a salvação de Deus.”

 

Pr. Éber Lenz César (eberlenzcesar@gmail.com)

 

 

 


[i] Mais a frente, quando chegarmos ao capítulo 3 deste evangelho, consideraremos mais detalhadamente o Ministério de João Batista.

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