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Jovem e tentado!

casa-roca-mato-grossoHá muito, muito tempo, eu fui jovem como vocês… Aos 22 anos, eu estava no seminário preparando-me para ser pastor. Durante as férias, a direção do Seminário enviava alguns seminaristas para campos missionários, para treinamento. Eu fui enviado para um campo no interior do Mato Grosso. Havia ali algumas poucas casinhas de barro batido, umas poucas famílias da região e outras vindas de São Paulo. O Governo tinha oferecido terras a quem quisesse deixar a cidade e tentar a vida no campo. Moças bonitas, quase chegando ao Segundo Grau, tiveram que deixar a escola para acompanhar seus pais.

Uma dessas moças, mais ou menos da minha idade, loura, bonita, tinha facilidade para contar histórias e cantar. Ajudou-me no meu trabalho durante todo aquele mês, principalmente com as crianças. Ficamos amigos… No último dia, depois do culto da noite, todos foram se deitar. Todos, menos a moça… e eu.  Mas não se apresse a imaginar coisas!

Sentamo-nos num banquinho, em frente à pequena casa onde eu estava hospedado. Nenhuma viva alma, nenhum poste de luz; somente uma lamparina e minha pequena lanterna. Na frente, a uns 20 m, a estrada (sem trânsito). Atrás, a porta do meu quarto e nenhuma passagem para outro cômodo. Conversamos apenas por uns minutos e a moça começou a chorar… Sabe como é… Fiquei com pena. Uma moça bonita, prendada, vinda de São Paulo, naquele mato!  Tive um desejo forte de consolá-la, dar-lhe algum carinho, segurar suas mãos… Fiquei em conflito. Conhecia minha natureza afetiva, carinhosa, e tinha plena consciência das inclinações da carne. Achei que, se segurasse as mãos da moça (só isso), não ficaria só nisso. Estava tudo fácil demais. Pensei no compromisso que eu tinha com Márcia, minha namorada e quase noiva; pensei na minha responsabilidade como seminarista que estava ali pregando a Palavra de Deus e evangelizando; pensei nas possíveis consequências, inclusive um sofrimento ainda maior para a moça. Todos estes pensamentos povoaram a minha mente por alguns segundos… Então, iluminei-lhe o rosto com a lanterna e lhe disse: “Vai pra sua casa, vai! Amanhã a gente se despede!”. Ela foi, sem relutância. No dia seguinte, cedo, quando o ônibus parou na estrada, o grupo todo estava ali para se despedir de mim, com amizade e gratidão. A moça, no meio deles, apenas acenou de longe.

Nada como uma boa consciência, como a que o apóstolo Paulo recomendou ao jovem Timóteo:

“… combata o bom combate, mantendo a fé e a boa consciência que alguns rejeitaram e, por isso, naufragaram na fé” (1 Timóteo, 1.18-19).

É muito bom saber que fizemos a coisa certa, que agradamos a Deus, que fomos coerentes com o que pregamos e ensinamos. Agradeci muito a Deus. Assim que cheguei de volta ao Seminário, escrevi uma carta aos meus pais cristãos contando o ocorrido, a tentação, e lhes agradeci a educação ou formação que me deram na minha infância e adolescência. Terminei a carta com estas conhecidas palavras do sábio Salomão, rei de Israel:

“Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles” (Provérbios 22.6).

Numa primeira visita a Márcia, contei-lhe também o fatídico episódio. Ela ficou grata e ainda mais amorosa… Mas rasgou a foto da moça! Acho que perdoei…

Não quero de modo algum passar a idéia de que era, ou pensava que era, melhor do que qualquer outro jovem ou seminarista. Sabe Deus quantas lutas tenho tido com aquela coisa que o apóstolo Paulo chamou de “carne” (Gálatas 5.13, 16-22).  E Deus sabe também que, nessa “batalha espiritual”, a carne venceu algumas vezes. E eu tive que lidar com a tristeza, a culpa, o enfraquecimento, e começar tudo de novo, ou quase tudo. A graça misericordiosa e perdoadora de Deus foi experimentada muitas vezes. Naquela época, eu pensava que, passados aqueles anos de juventude, cessariam as tentações e as lutas, pelo menos as mais severas. Hoje, com 82 anos, posso dizer: não acabam, não! São diferentes, e o exercício fortalece o espírito, mas a luta mesmo só vai cessar com a morte ou com a volta do Senhor Jesus. “…quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele…” Por isso, oramos: “Amém. Vem, Senhor Jesus!” (1 João 3.2; Apocalipse 22.20).

Um adendo: Eu e Márcia nos casamos dois anos depois desta experiência. Seguindo e servindo a Cristo, tendo a Bíblia como nossa regra de fé e prática, temos vencido as dificuldades normais de todo casamento e permanecido fiéis um ao outro, fiéis e felizes. Márcia tem sido uma cooperadora incansável no meu mistério pastoral. Nas igrejas por onde passamos, todos sempre a chamaram de “pastora”,  carinhosamente. Temos 3 filhos (dois pastores) e 5 netas. Um procedimento errado naquele dia teria posto tudo a perder…

Essa história real e muitas outras estão narradas no meu livro VIDA DE PASTOR, LEMBRANÇAS DE UMA JORNADA. Espero que esta experiência o fortaleça no dia da tentação. Mas ainda acrescento um versículo Bíblico:

“Tendo a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote… conservemos firme a nossa confissão [de fé]. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono  da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4. 14-16) .

Deus o abençoe!

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Pr. Éber Lenz César

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