II. Miopia espiritual
Série: Olhos que veem
II. Miopia espiritual
Com uma câmera fotográfica, equipada com uma lente especial, ajustado o foco, podemos fazer uma bela foto de uma flor ou qualquer outro objeto à pequena distância. Ajustando de novo os foco, ou trocando de lente, podemos fotografar uma árvore ou uma bela paisagem distante. Fantástico! Divertido!
Mais extraordinário é o que nossos olhos podem fazer. Focamos na flor que está ali a poucos centímetros, erguemos os olhos e vemos uma árvore, um animal ou a paisagem à distância. Isso acontece numa fração de segundos… As lentes dos olhos, chamadas cristalinos, ajustam o foco e controlam a luminosidade automaticamente, sem qualquer esforço de nossa parte.
Entretanto, esse instrumento maravilhoso – nossos olhos – pode não funcionar adequadamente. Os raios luminosos que penetram o cristalino podem convergir em um ponto anterior à retina, do que resulta a miopia, uma visão curta. O indivíduo pode ver de perto, mas não pode distinguir bem o que está longe. A hipermetropia é o contrário: o hipermetrope não vê claramente o que está perto, mas enxerga bem o que está longe. Já o astigmatismo é um pouco dos dois; não se vê com nitidez nem de perto, nem de longe.
Ora, tanto a miopia como a hipermetropia podem ser o problema dos olhos da alma. A focagem dos olhos físicos pode estar bem, mas a visão da vida e das coisas espirituais pode estar fora de foco. Nesta mensagem, vamos considerar alguns dos sintomas de miopia espiritual e sugerir algum tratamento.
Dois casos clássicos de miopia.
A história dos gêmeos Esaú e Jacó, filhos de Isaque e Rebeca, é bem conhecida. Esaú “se tornou um caçador habilidoso que vivia ao ar livre, enquanto Jacó era mais pacato e preferia ficar em casa… Certo dia, quando Jacó preparava um ensopado, Esaú chegou do deserto exausto e faminto” e pediu a Jacó um pouco do tal ensopado. Jacó, argiloso, assentiu, mas com uma condição: “Em troca, dê-me seus direitos de filho mais velho” (o chamado direito de primogenitura, que incluía grandes vantagens pessoais). Esaú concordou, dizendo: “Estou morrendo de fome. De que me servem meus direitos de filho mais velho?” (Gn 25.27-32). Esse foi um caso clássico de miopia, de imediatismo. Por um desejo ou mesmo uma necessidade presente e momentânea, Esaú abriu mão de privilégios futuros e permanentes, muito importantes naquela cultura. Viu somente o que estava perto, não o que estava distante!
Um outro exemplo é o do jovem rico que perguntou a Jesus: “Bom mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” Jesus, sabendo que o rapaz era rico e apegado aos seus bens, disse-lhe: “Venda todos os seus bens e dê o dinheiro aos pobres. Então você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me” (Lc 18.18-26). Lamentavelmente, o rapaz não passou no teste! Sua miopia estava avançada… Via com clareza os bens que possuía; mas não discernia as bênçãos espirituais do discipulado cristão.
Cura para a miopia
Sabe-se que as ovelhas não têm uma boa visão; são míopes. Quando no pasto, esses animais baixam a cabeça e se concentram na relva que está diante dos seus olhos; movem-se de uma moita de capim para outra sem levantar a cabeça, sem checar a direção, levadas apenas pela próxima moita de capim. Obviamente, acabam se desviando do caminho e se perdendo. A Bíblia diz que é isso mesmo que fazemos, às vezes, senão com frequência.
“Todos nós nos desviamos como ovelhas; deixamos os caminhos de Deus…” (Is 53.6).
Alguns vivem a vida assim, focados no imediato. Vivem na base do que der e vier, não acreditando muito em nada, nunca parando para checar a direção. Pior, não oram para saber qual é a vontade Deus.
O sábio Salomão escreveu nos Provérbios: “O povo que não aceita a orientação divina se corrompe…” (Pv 29.18). Deus quer que nos posicionemos acima do nível animal, dos instintos, dos desejos inconsequentes…
- O prazer e o conforto de um carro, agora, pode endividar a família, ou, quem sabe, impedir a formação intelectual dos filhos.
- O sexo sem compromisso, apressado, pode comprometer a relação… e a moral!
- A remuneração extra não compensa o prejuízo para o convívio familiar.
- O trabalho, as compras ou, que seja, um passeio no domingo não podem substituir o culto de adoração, a comunhão com os irmãos, o crescimento espiritual.
O melhor está por vir
Todos enfrentamos adversidades, e sofremos. Se damos atenção demais às circunstâncias presentes, se focamos nas dificuldades, perdemos o gosto pela vida, perdemos a fé, a esperança, a alegria, o rumo. Alguns, querendo nos ajudar, vão nos dizer: “Isso vai passar!” Certamente. Não só vai passar, como vai nos ensinar, fortalecer e direcionar para um futuro melhor. Precisamos olhar lá na frente, e seguir… O apóstolo Paulo escreveu aos Coríntios:
“Estas aflições pequenas e momentâneas que agora enfrentamos produzem para nós uma glória que pesa mais que todas as angústias e durará para sempre. Portanto, não olhamos para aquilo que agora podemos ver, em vez disso, fixamos o olhar naquilo que não se pode ver, pois as coisas que agora vemos logo passarão, mas as que não podemos ver durarão para sempre” (II Co 4.17-18).
O amor e a graça de Deus nem sempre são visíveis, nem sempre estão ali perto. Mas são esperadas, pela fé. E nos fortalecem no presente!
Éber Lenz César (eberlenzcesar@gmail.com)