7 palavras de Cristo na cruz (IV)
IV. “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
De todas as palavras que Jesus disse na cruz, esta é, sem dúvida, a mais difícil de entender. Martinho Lutero passou um dia inteiro meditando nesta palavra. No fim do dia, ele anotou: “Deus desamparou Deus! Quem pode entender isto?”
Na eternidade, quem sabe, o próprio Jesus, ainda com as cicatrizes da cruz, nos dirá o que sentiu na hora extrema de sua paixão e por que orou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste.” Por agora, conhecemos “em parte”, e “vemos como em espelho, obscuramente” (I Co 13.12). Que o Espírito de Cristo nos ilumine.
Trevas sobre a terra..
Jesus foi crucificado à hora terceira (nove horas da manhã). Desde então, até a hora sexta (ou seja, às doze horas), ele falou três vezes. “Chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra, até à hora nona” (Mc l5.33). Aquela noite ao meio dia foi um dos milagres do Calvário. Os outros foram:
a) o véu do santuário se rasgou em duas partes, de alto a baixo;
b) tremeu a terra;
c) fenderam-se as rochas;
d) abriram-se os sepulcros e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram (Mt 27.51-53).
Por que houve trevas sobre toda a terra? Que efeito tiveram sobre os circunstantes? Que significaram para Jesus?
a) “O universo que por ele fora criado entrou em convulsão, sintonizando-se com a dor do Senhor da Glória, escondendo-se o sol ante a injustiça da crucificação de Jesus.” (R. McAlister, obra citada).
b) A escuridão fez calar a turba. Assustados, cessaram as blasfêmias e os insultos. Seus corações não mudaram, mas seus lábios se calaram.
c) Na noite do nascimento de Jesus, “o povo que jazia em trevas viu grande luz” (Mt 4.16. Lc 2.8-11); no dia de sua morte, “houve trevas sobre toda a terra.” Naturalmente. Jesus é a Luz do mundo (Jo 8.12).
d) Cristo, na cruz, travou sua batalha maior e mais decisiva contra os poderes das trevas (Lc 22.52-53). Derrotou-os no ambiente deles.
e) As trevas do Calvário representam ainda o desamparo que Jesus experimentou naquelas horas finais do seu martírio.
A hora extrema.
“À hora nona clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mr 15.34).
No grego, a palavra usada é abandonaste, que é um pouco mais forte.
Como dissemos, esta quarta palavra de Cristo na cruz é a mais difícil de entender; não devemos ser dogmáticos a respeito. Pode ser que Jesus, assumindo todo o peso dos nossos pecados, tenha se sentido abandonado pelo Pai, sem que o Pai, que tanto o amava (Mt 3.17) o tenha abandonado, de fato. Mas pode ser também que o sacrifício do Filho tenha incluído este sofrimento mais espiritual, mais terrível que o sofrimento físico. Jesus tomou sobre si os nossos pecados, pagou eles, fez expiação por eles.
“Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas… mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos… Ele levou sobre si o pecado de muitos…” (Is 53.5,6,12).
Jesus mesmo nunca pecou, mas Deus “O fez pecado por nós…” (II Co 5.21).
“Cristo… não cometeu pecado… sofreu em vosso lugar… carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos aos pecados, vivamos para a justiça…” (I Pe 2.21-25).
“Naquele momento, Jesus sentiu pesar sobre si todo o pecado do mundo… conheceu a dor que o pecado traz, dor da separação de Deus…” (R.McAlister, obra citada).
Boa nova, advertência e consolo.
A quarta palavra de Cristo na cruz ensina-nos:
a) O pecado é coisa séria. Deus é amor, e ama o pecador; mas ele é justo também, e tem que punir o pecador, ou seu substituto. Ele exige expiação. Cristo, nosso substituto, fez expiação por nós; foi o nosso “bode expiatório”.
b) O pecado separa o homem de Deus. “As vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus…” (Is 59.2). O homem, mesmo o salvo, quando em pecado, sente-se separado de Deus; sabe que Deus reprova o que está fazendo. A comunhão desse homem com o seu Deus pode ser restaurada prontamente. Basta que se arrependa, confesse e deixe o pecado (I Jo 1.5-9).
c) É comum sentirmo-nos desamparados ou abandonados por Deus quando sofremos perdas ou reveses. Dizemos: “Deus me abandonou.” Não é verdade. Cristo sentiu-se assim, pelas razões expostas. Contudo, feita a expiação, ele orou: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.” Se estamos em pecado, não há como evitar o sentimento de desamparo. Porém, temos a promessa: “De maneira alguma te deixarei; nunca jamais te abandonarei.” Assim, afirmemos confiantemente: “O Senhor é meu auxílio, não temerei…” (Hb 13.5,6. Ver Sl 1.1,4).
Leia as outras mensagens desta série:
1. “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” 2. “Hoje estarás comigo no paraíso.” 3. “Mulher, eis aí teu filho…” 5. “Tenho sede!” 6. “Está consumado!” 7. “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”(Éber M.Lenz César, Igreja P. das Graças, Recife, PE, 26/04/92. Igreja Presbiteriana Luz do Mundo, Rio de Janeiro, RJ, 24/03/2002)