Impactos transculturais

IMPACTOS TRANSCULTURAIS 

Era nossa primeira noite em Pretória,  África do Sul. Estávamos ali a convite do Pr. P. Pienaar e do Conselho da Igreja Reformada Portuguesa de Pretória para um trabalho missionário entre os portugueses. Sem levar em conta o fuso horário,  o Pr. Pienaar nos chamou pelo interfone bem cedo. Márcia atendeu. “Diga ao Éber para descer! Vamos fazer uma visita.”

Vesti rápido a roupa da viagem: uma calça azul marinho boca-de-sino, uma camisa salmão, gravata listrada de azul e rosa e um blazer xadrez, tudo muito fashion, moderno, jovem… no Brasil!

A visita seria ao diretor de uma escola afrikaner (colonizadores brancos). A caminho, o Pr. Pienaar ensinou-me a dizer “Prazer em conhecê-lo” em afrikaans.

Na escola, Pienaar me apresentou ao Diretor, que disse algumas palavras em afrikaans. Ainda sonolento e zonzo, não me lembrei da recém aprendida frase em afrikaans. Assenti com a cabeça e por ali fiquei, sem entender nada do que os dois diziam. 

Eles olharam para mim e riram mais de uma vez. Fiquei constrangido. No fim, eu me lembrei de tudo o que sabia em afrikaans. Apertei a mão do diretor, e disse: “Aangenaame kennis!”.  Os dois riram ainda mais… 

No carro, o Pr. Piennar explicou: “Éber, em afrikaans, só se diz ‘Prazer em conhecê-lo!’ na chegada, e não, na saída”. Não deixei por menos: “Como eu poderia saber? No Brasil, dizemos na chegada e na saída…”.

E emendei: “E por que vocês olhavam para mim e riam, enquanto conversavam?”. Ele explicou: “Porque essa roupa que você está usando, aqui na África do Sul, é roupa de playboy. Os pastores não se vestem assim”. Olhei discretamente para o reverendo ao meu lado, e pensei (só pensei): “E isso aí, é roupa de pastor? Um safári bege de perna curta e meião branco, com um pente branco enfiado na meia direita…” Bem, moda é moda, cultura é cultura… 

Não é sem bons motivos que, de uns anos para cá, tem-se dado mais ênfase ao preparo transcultural dos missionários. Muitas gafes, e até mesmo situações de perigo, podem ser evitadas…