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Um beijo desastroso

Tudo começou num casamento português em Nelspruit. Ainda não conhecíamos os noivos nem seus familiares, e não fomos convidados. Compareceram muitos portugueses e um único afrikaner. O noivo, de cerca de 20 a 25 anos, tinha um próspero negócio em Nelspruit; a noiva, de 18 anos, era de Malelane, a alguns quilômetros de Nelspruit. Eles já estavam juntos e tinham um bebê. A festa transcorria bonita e alegre. Não faltou vinho (ao contrário do que aconteceu nas bodas de Caná da Galiléia, narrada no Evangelho de João, cap. 2). O que faltou foi compostura… O afrikaner bebeu um pouco mais de vinho e tentou beijar a noiva… na boca! Eu estive num casamento afrikaner certa vez e reparei, curioso, que os homens todos davam um beijinho na boca da noiva, o que no Brasil chamamos de “selinho”. Mas, num casamento português… não podia dar certo! O noivo não gostou nada do beijinho do afrikaner na boca de sua noiva e se enfureceu. Esquecendo-se da festa e dos convidados, voou para cima do elemento e com um soco, jogou-o no chão. Os convidados se agitaram assustados e então armou-se um verdadeiro barraco. Gente correndo pra todo lado, alguns tentando segurar o noivo enfurecido, outros tentando afastar o afrikaner abusado… Inevitavelmente, a festa acabou…

Um amigo do casal, recém-chegado à nossa congregação, retirou os noivos do meio da confusão e levou-os a Malelane, onde moravam os pais da moça. Durante a viagem, o companheiro desta, agora seu marido, começou a culpá-la. “Você não podia ter deixado…”. Ele estava realmente nervoso e inconformado. Com a adrenalina nas alturas, exaltou-se excessivamente e acabou dando um tapa na moça. Esta não deixou por menos… Acabou com o casamento e se separou do rapaz. Pouco tempo depois, o barraco se transformou numa cena de cinema: o pai da moça foi a Nelspruit com uma arma e cravou de balas o apartamento do genro machista e genioso. O rapaz só escapou porque alguns amigos o preveniram pouco antes do atentado! Tudo acabou virando caso de polícia…

Dias mais tarde, acalmados os ânimos, o amigo do casal, aquele que o havia levado de carro a Malelane na noite do casamento, digo, do barraco, convidou o rapaz para os cultos da nossa igreja e para as reuniões na nossa casa. Ele apareceu primeiro na igreja, mais ficou do lado de fora, indeciso entre o desejo de entrar e um certo constrangimento. Na quinta-feira seguinte, foi ao estudo bíblico na nossa casa, sentindo-se um pouco mais à vontade. Estava visivelmente triste e desolado. Ele havia tentado se reconciliar com a esposa, mas sem sucesso. Passados uns dois meses, eles se encontraram em Nelspruit e ele conseguiu levá-la à reunião na nossa casa. Depois do estudo e do chá, sugeri ao casal que ficasse um pouco mais, para a gente conversar. Ficaram até quase meia noite. A moça tinha estudado num convento, ocasião em que quase se tornou freira. Tinha fortes convicções e tradição católicas, e resistiu bastante durante a conversa. Mas, ao final, os dois estavam abraçadinhos… Creio que por suas convicções e por pressão dos pais, a moça não voltou às nossas reuniões; e o rapaz, não querendo mais confusão, desistiu também. Uma pena. Bem que precisavam…

Poderia ser diferente… evitando tanto sofrimento…

(Extraído do meu livro “VIDA DE PASTOR, LEMBRANÇAS DE UMA JORNADA”. Veja mais sobre o livro)

Éber Lenz César

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