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A família nos planos de Deus

David Livinsgtone, famoso missionário e explorador no centro da África, no século XIX compartilhou esta experiência:

“Por muitos anos eu pensei que o ‘trabalho do Senhor’ era prioritário […]. Mandei meus filhos para a escola da Missão […]. Não funcionou muito bem. Minha esposa precisou acompanhá-los […]. Ficou difícil. Reexaminando as Escrituras, entendi, por fim, que minha prioridade deveria ser minha família […]. Se eu a pusesse antes da minha carreira, então, e somente então, eu faria o ‘trabalho do Senhor’ como deve ser feito.”

Vivemos tempos difíceis… A despeito do progresso científico e da tecnologia avançada, perdemos muitos e preciosos valores morais e, mais ainda, os valores espirituais. O que os filósofos chamavam de “neo-modernismo”, hoje é chamado “modernidade liquida” (Zygmunt Bauman). O termo sugere que tudo é liquido, escorre fácil, é instável ou passageiro; nada é definitivamente certo ou errado. Tudo é relativo; certo para uns, errado para outros, e vice versa. Em seu livro “Modernidade liquida”, Balman escreveu: “O principal herói deste livro é o relacionamento humano. Seus personagens centrais são homens e mulheres, nossos contemporâneos, desesperados por terem sido abandonados aos seus próprios sentidos e sentimentos facilmente descartáveis, ansiando pela segurança do convívio e pela mão amiga com que possam contar num momento de aflição…”

Como alguém já disse: “Não conseguimos viver sem o outro. Não conseguimos viver com o outro”.

A Folha de São Paulo, de 20/12/2013 publicou dados do IBGE relativos aos casamentos e divórcios ocorridos no Brasil nos últimos anos, e concluiu: “O número de casamentos aumentou mas as uniões têm durado menos…” Nos Estados Unidos, 60% dos casamentos acabam em divórcio. Na Inglaterra, são 40%. No Brasil, em 1985, havia 1 divórcio para cada 9 casamentos; dez anos depois, a proporção era muito maior: 1 divórcio para cada 4 uniões (cerca de 25%).

E o que dizer…

dos que permanecem casados, mas infelizes?
dos filhos que não obedecem, não respeitam os pais, os professores, as autoridades?
da mídia, educadores e pais que encorajam a prática do sexo antes do casamento, sem compromisso e não necessariamente fiel e heterossexual?

Não foi sem razão que o comediante Chris Rock colocou a seguinte opção:

“Você quer ser solteiro e solitário ou casado e entediado?”

Mas nós temos outras opções, principalmente quando levamos a sério o ensino da Palavra de Deus…

Origem e propósito da família de acordo com a Bíblia

Precisamos reexaminar o “manual do fabricante”. Onde se originou a família e qual era e ainda é a intenção do seu Criador?

Não importa se você entende o Gênesis como parábola, história ou teologia ou as três coisas. Sem detalhes científicos, os capítulos 1 e 2 nos dizem que Deus criou todas as coisas e que o homem é o clímax da Criação. O relato da criação do homem inclui a mulher, o casamento e a família. Vamos destacar os versículos que se referem à origem, natureza e propósito do casamento e da família:

Em Gn 2.18-25 aprendemos o que ainda hoje constatamos no viver diário:

O homem precisa da companhia da mulher e vice-versa (v.18a)
O homem precisa de ajuda e vice-versa (v. 18b)
Antes de lhe prover uma companheira, Deus o fez consciente dessa necessidade (vs.19-20)
O homem foi criado primeiro; é o cabeça da mulher, o líder (vs. 21-22. Ver I Co 11.3)
Homem e mulher são muito diferentes, mas são da mesma natureza e espécie (v. 22b)
A certa altura, o homem deixa os pais e se une à sua mulher, casa-se com ela, constitui uma família (v. 24)
O homem e sua mulher tornam-se uma só carne; a intimidade do sexo implica compromisso matrimonial (v.25)

Natureza e compromisso da união, ainda em Gênesis, com respaldo em outras passagens bíblicas:

Heterossexual – O homem se une à sua mulher
Monogâmica – O homem se une à sua mulher, não às suas nem às dos outros
Completa – Tornam-se os dois uma só carne (corpo, espírito, propósitos, solidariedade, sem perda de identidade)
Permanente – Uma só carne sugere permanência, indivisibilidade (Mt 19.4-8)

O propósito da união. Gn 1.28; 2.15

Procriação – Sexo e filhos são bênçãos de Deus. Sl 127
Complementação – Diferentes, complementando-se
Companheirismo – Amor, amizade, confidência
Cooperação – A mulher é “auxiliadora”, não serva ou empregada… Isto é válido para o homem também
Prazer – Sexo, filhos, companhia, conversas, diversão. Pv 5.18-19; 1 Co 7.3-5

A família no Velho Testamento

Deus instituiu a família com propósitos bem específicos. Ele ama a família e a quer feliz.  A sociedade tenta diminuir a importância do casamento e da família. Não podemos nos acomodar. Uma família bem estruturada e feliz é nosso melhor testemunho cristão perante o mundo. Por toda a Bíblia, percebe-se a importância que Deus atribui à família. É o coração do plano de Deus para a humanidade.

Com que propósito Deus escolheu Abraão e o fez patriarca de Israel (judeus)?

Deus o disse explicitamente:  “Eu te abençoarei… Sê tu uma bênção…  Em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Como vemos, ao chamar Abraão, Deus tinha a intenção de abençoar não somente ao patriarca e sua família, mas, pelo exemplo e influência deles, “todas as famílias da terra”.
Abraão cometeu erros e acertos. Por exemplo, quando houve fome em Canaã, ele se mandou para o Egito, aparentemente sem orar a respeito, sem buscar a direção de Deus. Pior, temendo por sua vida, pediu a Sara, sua esposa, que mentisse dizendo ser sua irmã… (Os reis costumavam tomar para si as mulheres estrangeiras mais bonitas que chegassem ao seu reino, e Sara era muito linda). Com isto, Abraão egoisticamente expôs sua esposa ao adultério, o que de fato quase aconteceu… Entretanto, Deus a protegeu, a a Abraão também. Depois desta experiência aflitiva, o patriarca voltou para Canaã, mais exatamente, para Betel, onde antes ele havia construído um altar para adoração. Na verdade, ele voltou “ao lugar do altar” . Foi como uma volta para Deus… (Gn 12.8-10; 13.1-4).
As famílias cristãs, lideradas pelo marido e pai, precisam sair do “Egito” (símbolo de “mundo”, na Bíblia) e voltar para “Betel”, o lugar do altar!  No plano de Deus, o pai em cada família deve ser um sacerdote e pastor para sua esposa e seus filhos, como Abraão. Deus lhe tinha dito:

“Eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito” (Gn 18.19. Ver Êx 19.6; I Pe 2.9)

Sempre famílias:

Crescendo a descendência de Abraão, eles foram chamados “Filhos de Israel”, sempre cônscios de serem uma reunião de clãs e famílias.
No Sinai, Deus ordenou a Moisés: “Levantai o censo de toda a congregação dos filhos de Israel, segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais…” (Nm 1.1-2)
As várias genealogias bíblicas também indicam a importância que a Bíblia dá à família, à linhagem.

Os Dez Mandamentos também enfatizam a família. São a vontade de Deus para a vida em família. Note:

“Não terás outros deuses…” – Os cananeus tinham muitos deuses; algumas passagens se referem aos seus “ídolos do lar”. Lamentavelmente, alguns lares em Israel, sob a influência dos cananeus, os tiveram também. Em nossos dias, muitos lares têm os seus ídolos, diferentes das imagens pagãs antigas, mas ídolos ou coisas que têm prioridade, ocupam o lugar de Deus ou afastam as pessoas de Deus (dinheiro, sexo, vícios, televisão, etc).
“Lembra-te do dia de sábado para o santificar…” – Um dia especial para descanso, convívio familiar e culto.
“Honra a teu pai e tua mãe” – Preserva a cadeia de comando e mantém a família unida.
“Não adulterarás…” – O adultério destrói as famílias e traz grande sofrimento aos envolvidos.

O Salmo 78, de Asafe, é para hoje…

O BarMitzvah,

Visitando o Muro das Lamentações, em Jerusalém, presenciei um ritual judaico chamado barmitzvah. Este é um ritual de introdução do adolescente (12 anos) no estudo e prática da Lei. O adolescente, é paramentado com roupas próprias, as quais incluem os chamados filactérios ou tefilim, correias amarradas em torno do braço esquerdo (lado do coração) e uma caixinha preta amarrada à testa. Dentro da caixinha, 4 textos da lei, sendo que o de Dt 6.4-8 é o mais importante, e também o que sugere este ritual. Os judeus o chamam de Shemá, que quer dizer “Ouve, ó Israel”:

“Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões.”

Precisamos de um “BarMitzvah” para nossos filhos, ou seja, ensino das Escrituras e da prática da oração (Culto Doméstico). Os ensinos e valores bíblicos precisam estar presentes em nosso lar, de todas as maneiras Possíveis!

A família no Novo Testamento

Onde a igreja começou? Numa casa de família, numa sala alta ou cenáculo (At 1.12-13; 2.1ss). Algumas passagens indicam que a igreja reunia-se no templo, mas principalmente nos lares dos seus congregados Atos 2.46-47; Rm 16.3-5; Cl 16.19.

Posteriormente, surgiram comunidades cristãs por todo o Império Romano. Ora, sabemos que por mais uns 150 anos, não se construíram templos; logicamente as igrejas se reuniam nos lares. Além disso, é fácil observar que os apóstolos usaram termos do contexto familiar para referir os membros das igrejas: “Irmão”, “irmã”, “pai espiritual”, “filho espiritual”. Paulo chamou a Igreja de “família de Deus” (Ef 2.19). Os líderes da igreja são “anciãos” (presbiterós) como os chefes dos clãs em Israel.

Por falar em presbíteros (e também em diáconos), líderes das igrejas, vale observar que as exigências espirituais e morais que se faz aos mesmos, na Bíblia, têm a ver com suas responsabilidades como chefes de família (I Tm 3; Tt 1):

“Esposo de uma só mulher”
“Que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito”,
“Que tenham filhos crentes”
“Quanto às mulheres, é necessário que sejam respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo”

Todas as demais virtudes e deveres mencionados são importantes para a família (“amigos do bem”, por ex).

Quer saber se a família é mesmo o coração do plano de Deus para a humanidade? Recorde como se deus o nascimento e crescimento de Jesus: O Salvador veio ao mundo no contexto de uma família; tornou-se filho de Maria e José, e lhes foi submisso! Viveu com eles em casa e os ajudou até aos 30 anos! Mesmo agonizando na cruz, Jesus pensou em sua mãe, proveu-lhe uma família e um lar: Jo 19.25-27

Mandamentos para a família no NT

Além dos ensinos gerais sobre caráter e procedimentos – Sermão do Monte e os textos referentes aos presbíteros e diáconos (já citados), há várias passagens específicas sobre o que Deus planejou para a família e ordenou aos seus integrantes: Ef 5.22-6.4; Cl 3.19-21; I Pe 3.1-12.

De acordo com estas passagens, o que Deus planejou para a família? O que ele quer, em resumo?

Maridos:

Amar a esposa (como Cristo amou a igreja)
Ser fiel (monogâmico)
Ter consideração para com sua esposa, tratando-a com dignidade
Viver a vida comum do lar, com discernimento
Governar bem a própria casa

Esposas:

Amar o marido
Ser fiel (esposa de um só marido)
Ser submissa ao marido (explicar)
Não se preocupar tanto com a beleza exterior, mas, sim, com a beleza interior, do coração, do caráter
Se respeitável, não maldizente, temperante, fiel, sensata, honesta, boa dona de casa

Pais e filhos

Obedecer e honrar os pais;
Cuidar deles na velhice.

E para que?

Para a glória de Deus
Para que não se interrompa a vida de oração do casal (I Pe 3.7)
Para que a Palavra de Deus não seja difamada (Tt 2.5)
Para ganhar para Cristo o marido descrente (se for o caso) (I Pe 3.1-2)
Para ser feliz!
E por mais um motivo…

Para que o Senhor avive a sua igreja!

Você concorda que a igreja de modo geral está em crise? Deseja e ora por um avivamento? Qual seria o papel da família num avivamento? Onde o avivamento deveria começar? Na igreja ou na família?

John G. Machen, Teólogo, comentando a crise da família: “Um avivamento reverteria esta situação. A família seria outra vez a instituição mais importante”. Mas o reverso também é possível. Podemos cooperar com Deus na realização de um avivamento santificando as famílias.… A igreja é constituída de famílias…

Richard Baster, escritor puritano inglês, XVII, orava por um avivamento em sua igreja… O Senhor lhe mostrou que se ele ajudasse as famílias de sua igreja a resolver seus conflitos e restaurar seus “altares”… Ele começou a trabalhar com as famílias… Mais e mais famílias começaram a experimentar as bênçãos de Deus, e o Espírito Santo agiu na igreja…

Aplicação e oração

Nossas famílias estão no centro dos planos de Deus para a humanidade… Portanto, se o seu casamento e a sua família estão com problemas, não desista! Ore e busque ajuda na Palavra. Jesus Cristo é o Senhor do seu lar? (Ap 3.20; Lc 6.46). Aconselhe-se com seu pastor e com irmãos. Priorize sua família, seja humilde, reconheça as próprias faltas, peça perdão, perdoe (Ef 4.31-32). Ame decididamente e incondicionalmente (amor Ação). E que a igreja cuide de suas famílias! Deus os abençoe!

Se desejar aprofundar-se no assunto ou se precisa de material para ensinar e aconselhar, veja também:

Família feliz

Construindo o casamento com amor (Curso em 10 lições)

Éber Lenz Cesar (eberlenzcesar@gmail.com)